sexta-feira, 29 de abril de 2005

Primavera




Toc Toc...não respondes...tiro a chave de cobre do eterno
esconderijo que deixou de ser secreto…Entro sem fazer ranger
a madeira no chão...espreito e sigo o caminho do teu odor
perfumado. O GPS da tua fragrância não me trocou a latitude.
Encontro-te de costas com um sorriso de um sonho bom... meio
coberta pelo edredão cru, com símbolos chineses...aproximo-me...
Mexes-te… descubro-te os contornos… e que o sorriso se foi,
a tua boca abre-se ligeiramente...chego-me mais ...observo-te...
viras-te de novo... deixo a impressão digital dos meus lábios
sobre o teu ombro que se descobre por debaixo da almofada...
sinto-o mexer-se um pouco como que pedindo outro...fico a
olhar-te uns minutos ao som do candeeiro oriental escrevendo
reflexos no soalho.
Faço o caminho de volta pisando o mesmo trilho...fecho a porta...
A noite trouxe a Lua por entre as nuvens.
A Primavera chegou mais cedo... despida...nua.

As cores de ti



Loiros, rebeldes, protesto selvagem, solidários com o vento
Verde água, ver o mundo, que outra cheia molhou
Rosa, do gosto de boca, de beijos assim
O marfim, vivo de cal e sorrisos
Ébano seda, de cheiro, de curvas, de toque suave
Vermelho, de sangue a correr como se os mundos acabassem ali
Azul, do teu céu, que te solta no tempo, donde teimas voltar
Lilás, das flores do teu vaso em janela de água furtada
Amarelo, do odor de limão de velas acesas
Negro, do prazer de olhos fechados, de nos perdermos no escuro
Branco, da paz, de êxtases prolongados…e múltiplos
E de todas as tuas outras cores que se te misturam por dentro

Um dia…conto-te ao melhor pintor de Montmartre
…e deixo que te eternize. Talvez…no final da palete
…te redescubra o arco íris.


Paris, Abril 2001