quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sétima +

Seja sétima, a maior arte de ver... ouvir... sentir...
Saboreio-te em oitava, vestida no branco que te despe... raro momento em que o suor se evapora por entre os teus dedos...e me tocas, tocando-me de olhos fechados pelas teclas que sabes de cor entre o escuro e a luz sonante... 
... sei que vais ficar sentada depois desse trecho, de mãos a prender os dedos nas últimas notas tocadas, durante os segundos que te prendem ao tempo estático... e o lençol negro a escorrer-se da tua pele...
... recomeça, uma outra vez... agora ao piano, a solo, no teu tema preferido... outro múltiplo teu...





segunda-feira, 26 de abril de 2010

Silêncios...em ti.

Abriste a porta e entrei. Segui-te a passos curtos o odor que emanavas.
Senti-te perto e deste-me a provar-te. Tacteando com as mãos gestos vagarosos.
Desejos, palavras, emoções de primeira vez.
Tocámos, beijámos, sentimos, gostámos, descansámos
Nessa noite no caminho de volta memorizei cada pedaço teu.
Depois senti-te de novo por inteiro, entrando e aquecendo-me em ti.
Roubei-te o sussurro consentido. E o teu agarrares-me com medo que fugisse.
Tornei quadro preferido, atracar-me às tuas coxas e prender-me para sempre em ti.
Sentir-me de olhos fechados, contigo sentada sobre o meu rosto, numa humidade tropical, a descobrir uma cor de outra dimensão.
E não menos saboroso que tudo, o que afinal foi tão pouco, o aninhar-me em ti como duas peças perfeitas do puzzle em extase de reciprocidade .
Guardo os teus olhos, abertos, depois fechados confundindo-me a boca nos teus lábios.
E ficarmos nesse beijo...sempre.



                                                                                 (2007)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Desafiante

                                                                                       Foto: Mika
Vivido o estado de desejo, percorrido outro milímetro excitante do universo preliminar sublime, chegamos em fermata longa ao planalto eleito.
Envulvas-me de olhos fechados sabendo todos os caminhos de cor tornando o escuro vontade num apurar de sentidos. Agarramo-nos às mãos e as mãos à cama e deixas cair os cabelos no meu peito durante uma dança em ritmo lento de pressa do durar. E o tempo perde-se do tempo e nós dele..Inicias a subida tornando o Evereste um tímido monte de Vénus... Marte?Naquele durante ascendente em que fazes toda a escala de Rister parecer apenas um tremer tímido no meio d’O terramoto que pressentes  chegar quase a chegar ali tão perto de chegar ...e... que te abala que nos abala violentamente rindo de qualquer teoria céptica a propósito do Bigbang ... e continuas a subir desmitificando o sétimo céu numa ascensão que me ensurda com o teu grito de silêncio no olhar trocado... e o teu corpo replica vezes racionalmente incontáveis... e amazona invocas de braço no ar um maremoto de prata... que te inunda e afoga...Num abraço devolvemo-nos ao síncrono fechar de olhos até à bandeira branca que deixamos a quatro mãos no cimo tranquilo de outro cume a cada vez mais alto.. a cada vez mais perto de tornar-se longe...mais... desafiante.

sábado, 7 de novembro de 2009

Noites Lisboetas



Combinaram por telefone encontrar-se à porta dela. Um prédio pombalino com degraus de madeira restaurada, imaculadamente encerados. O corrimão em ferro forjado envernizado a mate incolor amparava-lhe o descer quando usava os compensados que lhe acrescentavam o resto da altura para o beijo equilibrado.
Ele chegou primeiro, como acontecia sempre. Pressionou o botão retro e polido da campainha…ela desceu. Ouvia-lhe os passos lentos compassados e seguros desde o bater da porta de quinto andar. A escada ecoava-lhe o chegar de forma apetecível e desejada de os ver de novo após tão grande ausência.
Ela tinha estado fora a preparar a colecção de inverno, em Milão. Ele de novo em missão no Iraque para um canal de informação inglês.
Há três meses que não se viam a não ser por vídeoconferência.
Ela pisava o último lance de escadas que ele conhecia de cor. Abriu a porta e ficou a olhá-la naquele descer. Nos últimos degraus deixaram olhos fixos um no outro enquanto os passos dela os aproximavam. Ambos esticaram os braços lentamente encaixando-se num gesto impetuoso. Depois num beijo leve de lábios.
Para não quebrarem a vontade de se sentirem juntos de novo, combinaram no inicio da relação, não falarem de nada durante o reencontro após uma ausência prolongada.
Conheciam o gosto de ambos em todos os cenários vividos.
A “Brasserie” da Alecrim era um dos restaurantes preferidos, calmo àquela hora a que costumavam jantar fora e tão próximo de casa dela. Onde quase sempre terminavam a noite.
Ele pediu bem passado, ela um seitan e espumante rosé para acompanhar. Ele um Romeira tinto. Continuaram a olhar-se alheios a tudo, revendo-se no desejo já vivido de voltarem a tocar-se ali por debaixo da mesa coberta com uma toalha branca a transbordar pano e margem de segurança ética.
Ela num vestido novo, largo e vermelho, escorrendo leve e amarrotado quase até aos joelhos, decotado a insinuar-lhe o peito.
Começaram pela salada de odor intenso a vinagrete, polvilhada com frutos secos. Ela, num movimento denunciado, continuava a olhá-lo. Era o convite para que ele, já descalço, posicionasse o pé no meio das pernas dela. O movimento lento ao tocá-la… provocou-lhe em menos de um minuto a intensidade suficiente para que os olhos denunciassem sem pestanejar aquele primeiro orgasmo para ele. Sempre de olhos fixos e mudos de palavras. brindaram ao primeiro dessa noite, esvaziando os copos num único gesto até à derradeira gota. com a mesma vontade e empenho que tinham sentido momentos antes.
Durante o resto do jantar permaneceram calados a invadir-se com o olhar. num jogo grandiosamente dominado por ambos.
Outro ritual fazia parte daquele reencontro. O ultimo copo era bebido, como o primeiro, de uma só vez.
Saíram do restaurante, trocando as mãos na cintura. Quando ela punha sapatos mais altos ele adorava colar-se, para lhe sentir ainda melhor o andar.
Perto da casa dela e já no regresso um concerto clássico de rua juntava várias centenas de pessoas. Encontraram um encosto de parede disponível ao fundo da plateia entre duas colunas das arcadas de uma loja.
O concerto recomeçou, ela fechou o olhos e deixou-se recuar até mais perto dele que de tão perto, lhe sentia o respirar na sua nuca. Um sopro de vento frio mas suave fez aninhar-se ainda mais.
A musica invadia toda a praça em crescendo... como ela, abraçando-o até onde a mãos chegavam. Sentiu as dele responderem a essa provocação tacteante.
Os bolsos do vestido não tinham fundo propositadamente. E ele sorriu ao sentir-lhe a pele convidativa das ancas na ponta dos seus dedos. Das contracções de ventre dela a cada poro estimulado.
Uma mulher ali mesmo ao lado apercebeu-se e olhou-a com um sorriso cúmplice.Ela voltou a fechar os olhos até se perder demorada e expectante na intensidade do próximo. Recostou a nuca no ombro dele e deixou-se levar pelo contraste daqueles dedos que sabia de cor, em crescendo até à apoteose do “coroado” estimulo final , de Mussorgsky, coro e sinos em sintonia com o que lhe vinha de dentro. Durou o tempo das palmas de toda a plateia que lhe abafaram o sussurro descontrolado.
Ficaram ambos na mesma posição até todos saírem da praça...sobravam ecos de concerto naquele desconcertante reencontro há muito desejado. A noite estava a começar...

sexta-feira, 29 de abril de 2005

Primavera




Toc Toc...não respondes...tiro a chave de cobre do eterno
esconderijo que deixou de ser secreto…Entro sem fazer ranger
a madeira no chão...espreito e sigo o caminho do teu odor
perfumado. O GPS da tua fragrância não me trocou a latitude.
Encontro-te de costas com um sorriso de um sonho bom... meio
coberta pelo edredão cru, com símbolos chineses...aproximo-me...
Mexes-te… descubro-te os contornos… e que o sorriso se foi,
a tua boca abre-se ligeiramente...chego-me mais ...observo-te...
viras-te de novo... deixo a impressão digital dos meus lábios
sobre o teu ombro que se descobre por debaixo da almofada...
sinto-o mexer-se um pouco como que pedindo outro...fico a
olhar-te uns minutos ao som do candeeiro oriental escrevendo
reflexos no soalho.
Faço o caminho de volta pisando o mesmo trilho...fecho a porta...
A noite trouxe a Lua por entre as nuvens.
A Primavera chegou mais cedo... despida...nua.

As cores de ti



Loiros, rebeldes, protesto selvagem, solidários com o vento
Verde água, ver o mundo, que outra cheia molhou
Rosa, do gosto de boca, de beijos assim
O marfim, vivo de cal e sorrisos
Ébano seda, de cheiro, de curvas, de toque suave
Vermelho, de sangue a correr como se os mundos acabassem ali
Azul, do teu céu, que te solta no tempo, donde teimas voltar
Lilás, das flores do teu vaso em janela de água furtada
Amarelo, do odor de limão de velas acesas
Negro, do prazer de olhos fechados, de nos perdermos no escuro
Branco, da paz, de êxtases prolongados…e múltiplos
E de todas as tuas outras cores que se te misturam por dentro

Um dia…conto-te ao melhor pintor de Montmartre
…e deixo que te eternize. Talvez…no final da palete
…te redescubra o arco íris.


Paris, Abril 2001